quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Não há vitória sem luta, não há luta sem risco.

Crises econômicas, sociais, políticas, muito graves costumam deixar marcas no comportamento das gerações e das camadas sociais que sofreram mais agudamente seus efeitos. Assim foi com a crise econômica mundial de 1929; com a revolução espanhola de 1935; com a Alemanha pós-Hitler, para citar apenas três de muitos outros casos.

A ascensão do neoliberalismo nos anos 90, embora não tenha se revestido do dramatismo dos exemplos citados, teve um impacto muito maior do que os exemplos mencionados, porque, na verdade, foi um cataclismo muito maior.

Ninguém deixou de ser afetado pela reviravolta neoliberal: nem o rico, nem o pobre, nem o trabalhador, nem o empresário, nem o país altamente desenvolvido, nem a nação mais miserável da África.

Os impactos foram diferenciados, mas todos, sem exceção, foram marcados por um deles: o impacto da incerteza.


Como em toda transformação social, há perdedores e vencedores na reviravolta neoliberal, mas o fato novo é que nenhum deles escapou da sensação de incerteza.

Em um mundo marcado pelo declínio acentuado dos valores morais, estéticos, sociais (declínio registrado por autores como Christopher Lasch, Richard Sennet e vários outros), mesmo antes da explosão socialista, as condutas individuais e coletivas decorrentes do sentimento de incerteza tornaram-se extremamente negativas.

Desse modo, o perfil do homem e da mulher do século XX, independentemente de sua posição social, é o de uma pessoa sem perspectivas de progresso pessoal e social assustada com a possibilidade de perder até mesmo a posição já galgada. Convencida de que não há alternativa para a situação social criada, a obsessão dessa pessoa é garantir-se, não se arriscar, não se comprometer com idéias e valores. Nem se empenhar completamente em nada, não desenvolver relações interpessoais profundas, deixar sempre abertas várias rotas de fuga, tanto no campo da economia quanto no âmbito dos sentimentos, das lealdades, das paixões.

Um ser morno, moldável, conformado, tanto na vida pessoal como na vida política. Ele sofre da síndrome do "mal menor". A meta é unicamente evitar o pior, buscar o mal menor, porque na sua cabeça não passa a idéia de opor-se frontalmente a ninguém, uma vez que assume, a priori, a impossibilidade de vencer um ataque.


Contra-atacar não é viável e atacar, então, não pode sequer ser cogitado, porque envolve o risco de aniquilação total.

Presas nesses grilhões, nem as pessoas nem as organizações populares, tampouco as agremiações de esquerda, conseguem formular estratégicas adequadas e táticas de ação coerentes para sair do lodaçal que as envolve.

Esse ser humano empobrecido na sua dignidade costuma racionalizar sua covardia com chavões do tipo: "não se pode fugir da vida como ela é. Fazê-lo é prova de irrealismo".

Este obstáculo terrível à liberdade, à democracia, à realização das pessoas só poderá ser vencido se for enfrentado com os valores autênticos das grandes correntes do pensamento religioso e marxista empenhadas hoje na empreitada heróica (e cheia de riscos) da reconstrução do socialismo.

Não há vitória sem luta, não há luta sem risco.
(Editorial - correio da cidadania‏)

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